artistas selecionados:

adelina gomes

carlos pertuis

Carlos Pertuis (1910-1977) possuidor de uma natureza sensível e religiosa, após a morte do pai deixou de estudar e foi trabalhar numa fábrica de sapatos.

Certa manhã, raios de sol incidiram sobre um pequeno espelho de seu quarto: um brilho extraordinário deslumbrou-o, e surgiu diante de seus olhos, numa visão cósmica, "O Planetário de Deus", em suas palavras. Gritou, chamou a família, queria que todos vissem também aquela maravilha que ele estava vendo. Foi internado no mesmo dia no Hospital da Praia Vermelha, em setembro de 1939.

Carlos desceu vertiginosamente à esfera das imagens arquetípicas, dos deuses e dos demônios. São frequentes as representações de rituais e símbolos religiosos. Sua pintura abarca uma grande diversidade temática, com grande originalidade mistérios que causam estranhamento, admiração, mas também inquietação. Produziu com intensidade cerca de 21.500 trabalhos – desenhos, pinturas, modelagens, xilogravuras e escritos.

Do escritor e crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) sobre Carlos Pertuis:

A vinda de Carlos para o convívio de Engenho de Dentro foi diferente da dos outros companheiros. (...) Ele vinha carregado de mensagens e de ideias, com os bolsos cheios de papéis escritos. Por sua cabeça turbilhonava ainda a visão mística, que literalmente o ensandeceu, como a outros ilustríssimos predecessores tal o sapateiro, de quatrocentos anos atrás Jacob Böhme, hoje, porém, famoso na história das ideias não por ser remendão, mas filósofo naturalista, precursor, aliás, do movimento de renovação religiosas do qual iria surgir a Reforma.

Carlos Pertuis não teve, ao que se saiba, antecedentes tão ilustres, mas sua esteira espiritual segue paralela, embora mais modestamente, à dos que se destacaram na vida e na história por sua ação benfeitora, seus arranjos místicos e proféticos e sua assinalada criatividade artística.

Sobre a tela da Fogueira vulva, por Nise da Silveira

Os rituais do fogo estão entre os mais antigos celebrados pelo homem, acompanhados de antigas e danças que reuniam o sarado e o profano.

Estes rituais arcaicos prolongaram-se nos festejos de São João. O ponto de partida da pintura foi a festa junina do hospital, que se resumiu numa decoração com bandeirolas. A pintura de Carlos vai muito mais além, reativando imagens arquetípicas do inconsciente coletivo.

De cada lado da fogueira, simetricamente colocados, oito homens de joelhos, de mãos cruzadas, roupas iguais e pulseiras, parecem pertencer a uma mesma confraria. Todos olham a fogueira, que ocupa o centro da pintura e acima da qual se vê um grande balão. Aqui ressurge o ritual arcaico do fogo, com suas típicas conexões entre fogo e sexualidade. O fogo representa o elemento masculino, e o balão, o elemento feminino.