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Adelina Gomes (1916-1984) era uma humilde camponesa do Estado do Rio de Janeiro. Problemas emocionais e afetivos causaram sua internação no Centro Psiquiátrico Nacional, na década de 1940. Trazida por Almir Mavignier para os ateliês de pintura e modelagem organizados por ele e Nise da Silveira, Adelina logo revelou grande capacidade expressiva e durante mais de 30 anos foi possível acompanhar o desdobramento de suas vivências psíquicas através das imagens pintadas ou modeladas.

Suas esculturas possuem um arcaísmo que faz lembrar as grandes deusas da Idade da Pedra. Na pintura, o tema das metamorfoses vegetais e animais e do encontro homem/mulher predominam. A riqueza de sua história e a pujança de sua arte foi mostrada no filme “No Reino das Mães”, que integra a trilogia Imagens do Inconsciente, filme de longa metragem realizado por Leon Hirszman em 1982.

Adelina Gomes (1916-1984) representava metamorfoses vegetais em muitas de suas pinturas. Certo dia, sem ser notada, retirou da estante onde estavam arquivadas novecentas telas de vários autores, precisamente sua pintura na qual pela primeira vez ela havia representado flores não fusionadas a uma figura de mulher.

Adelina repintou esta tela, superpondo uma face de mulher às flores que ocupavam o jarro e deu a este a forma de cabeça de um gato de expressão sinistra. Nise da Silveira compara esta obra a um quadro do surrealista Victor Brauner, que aborda os mesmos temas – mulher, gato e flor. Sobre Brauner, Antonin Artaud diz que ele conhecia “os estados do ser inumeráveis, e cada vez mais perigosos”.

Nise se apropriou dessa expressão para nomear a experiência da psicose, em substituição aos termos diagnósticos utilizados na psiquiatria tradicional. A loucura seria então a vivência desses estados inumeráveis, o perigo residindo na possibilidade da perda da integridade do ser.